Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em
Cantagalo (RJ), em 1866, descendente de sertanejos baianos e de portugueses, e
morreu assassinado em 1909, na cidade do Rio de Janeiro.
Tinha ideias republicanas e positivistas. Abandonou a
carreira militar, decepcionado com os desmandos do governo republicano.
Como correspondente de O Estado de S. Paulo, seguiu para o interior da Bahia, com a
finalidade de cobrir a Revolta de Canudos.
Euclides relata, pela primeira vez, a realidade do
sertão brasileiro e as verdadeiras condições de vida do nordestino – razões
pelas quais é considerado um pré-modernista. A experiência vivida no local do
conflito, as reportagens e os artigos jornalísticos serviram de base à sua
majestosa obra Os sertões, escrita em
São José do Rio Pardo (SP), no ano de 1902.
Os Sertões têm como núcleo a campanha de canudos, movida pelas
forças da República contra Antônio Conselheiro, fanático religioso, e seus
seguidores.
A obra divide-se em três partes:
§
A terra –
descrição minuciosa da Região Nordeste e de seus aspectos geográficos, físicos
e geológicos.
§
O homem – estudo
sofisticado dos tipos regionais brasileiros, frutos da miscigenação entre o
branco, o índio e o negro, que deu origem ao sertanejo e ao jagunço.
§
A luta – relato
do conflito de Canudos, isto é, dos combates entre os jagunços e as quatro
expedições do Exército.
Os Sertões foi um livro que causou grande impacto. Não
só pelo estilo brilhante, sua linguagem cheia de comparações precisas, mas
sobretudo porque relata o cotidiano de um acontecimento histórico que nem se
pode chamar de guerra, mas efetivamente de crime – crime de um governo contra
seu próprio povo.
Outras obras:
Peru versus Bolívia, Contrastes e confrontos, À margem da história.
Observe o estilo de Euclides da Cunha, lendo o texto Canudos não se rendeu, extraído da 3ª
parte do livro Os Sertões:
A LUTA
Canudos
não se rendeu
Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a
história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na
precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil
soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos
momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre
profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto,
a par de uma perspectiva maior, a vertigem...
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a
narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas
fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...
E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da
palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os
prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho,
que se nos entregara, confiante — e a quem devemos preciosos esclarecimentos
sobre esta fase obscura da nossa História?
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir
desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuidadosamente contadas.
VOCABULÁRIO:
Expugnado – conquistado
Cerramo-la – fechamo-la
Vacilante – hesitante, perplexo
Perspectiva – expectativa, esperança
Vertigem – tontura
Arraial – pequena povoação
QUESTIONÁRIO
1.
Onde e quando
nasceu Euclides da Cunha?
2.
Que profissão
exerceu?
3.
A oba Os Sertões está dividida em três partes.
Quais são elas?
4.
De que trata cada
uma dessas partes?
5.
Por que o livro Os Sertões causou grande impacto nos
leitores da época?
6. Por que Euclides
da Cunha considera uma “página trágica e sem brilhos” o final da luta de
Canudos?
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