TEXTO I
NO MUNDO DOS SINAIS
Sob o
sol de fogo, os mandacarus se seguem, cheios de espinhos... Mulungus e aroeiras
expõem seus galhos queimados e retorcidos, sem folhas, sem flores, sem frutos.
Sinais
de seca brava, terrível!
Clareia
o dia. O boiadeiro toca o berrante, chamando os companheiros e o gado.
Toque
de saída. Toque de estrada.
Lá
vão eles, deixando no estradão as marcas de sua passagem.
[TV
Cultura - Jornal do Telecurso]
TEXTO II
A TRISTE PARTIDA
Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome ferroz.
[...]
Sem chuva na terra descamba janero,
Depois, feverero,
E o mermo verão.
Entonce o rocero, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando segue otra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
[...]
Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamos vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mermo cantinho
Nós torna a vortá.
[...]
[Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá, Vozes.]
[Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá, Vozes.]
TEXTO III
FUGA
A
vida na fazenda se tornara difícil.
No
céu azul, as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco, os bichos
se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um
milagre.
Mas
quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem
com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne,
largou-se com a família, sem se despedir do amo.
Desceram
a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da
madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito
coberto de seixos miúdos, (...) Caminharam bem três léguas antes que a barra do
nascente aparecesse.
Fizeram
alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na
testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança.
(...) Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura,
acharia um lugar menos seco para enterrar-se.
[Graciliano
Ramos. Vidas secas, Martins.]
VOCABULÁRIO:
Arribação: ave parecida com o pombo, que migra em bandos de uma
região para outra.
Finavam: acabavam, morriam.
Morrinhentos: enfraquecido.
Amo: senhor, patrão.
Barra do nascente: clarão do nascer do sol.
Depôs: colocou.
Em pala: em aba.
2. Qual a diferença entre língua e fala?
3. Qual é o tema principal dos três textos?
4. Cada texto apresenta um estilo próprio. Qual deles lhe agradou mais?
5. Qual dos textos lhe deixou maior impressão sobre a seca?
6. Procure produzir um texto com algum destes títulos: (20 linhas)
a. Fala-se muito, entende-se pouco.
b. Comunicação e descomunicação.
c. Comunicação visual.
d. Comunicação pelo silêncio.
7. A partir da leitura do texto a seguir, produza um texto sobre: "O lugar do computador na comunicação." (20 linhas)
Voar, surfar, ou navegar pelos fios dos computadores já não é mais cena de filmes de ficção: é real e está cada vez mais próximo de você via Internet, rede que ganhará quatro novos usuários para cada bebê que nascer este ano no planeta.
[O Estado de S. Paulo, Estadinho - 6/5/98]
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