TEXTO - CHARUTOS OU BOMBAS?
BRASÍLIA – Os EUA invadiram o Afeganistão, erraram alvos, bombardearam o que havia sobrado da antiga invasão da União Soviética e estão até hoje por lá. Mas Osama bin Laden continua lépido e solto por aí.
O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, perambulou dias e dias pela Palestina, falou com as principais autoridades, propôs negociações e insistiu num processo de paz, mas voltou ontem aos EUA de mãos abanando. Israelenses e palestinos continuam se matando.
Agora, confirma-se que funcionários norte-americanos andaram conversando com golpistas venezuelanos às vésperas do golpe de sexta-feira. E que, no dia de sua “posse”, o líder golpista Pedro Carmona falou com manda-chuvas de Washington. Flagrado, o Departamento de Estado mandou o porta-voz jurar que não participou nem estimulou golpe nenhum. Claro! Provavelmente foram só conversas de velhos amigos. Sobre beisebol, quem sabe.
Na política externa, pois, um desastre. E o que dizer da política comercial? Um exemplo: ao intensificarem o protecionismo ao aço, os EUA abriram uma reação em cadeia (União Européia, Canadá, México...) que, entre outras coisas, prejudica duplamente o Brasil: os produtores nacionais passam a ter margens pequenas de exportação e ainda ficam sujeitos à competição do excedente externo.
Sem falar na posição chocante contra o Protocolo de Kyoto, que tenta limitar os gases tóxicos na atmosfera e, assim, salvar o planeta para os nossos bisnetos e os bisnetos deles. O Governo George W. Bush surgiu numa crise de legitimidade e vai de mal a pior. E o mais curioso é a opinião pública interna, que quase triturou Bill Clinton por causa da Monica Lewinski e assiste passivamente aos fracassos retumbantes de Bush.
Cá pra nós, os charutos, balinhas de hortelã e traquinagens sexuais de Clinton entre quatro paredes na Casa Branca eram muito mais inofensivos do que as bombas, os golpismos e os erros de Bush ao redor do mundo.
[CANTANHÊDE, Eliane. Folha de S. Paulo, 18 abr. 2002, p.A-2.]
1. No título, a que aludem os substantivos CHARUTOS e BOMBAS? Que funções cumprem a conjunção OU e o ponto de interrogação?
2. Leia atentamente os verbetes do dicionário eletrônico Aurélio.
METÁFORA
[Do Gr. metaphorá, pelo lat. Methafora.]
S.f. 1. Tropo que consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto que ela designa, e que se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado. [Por metáfora, chama-se raposa a uma pessoa astuta, ou se designa a juventude primavera da vida.]
METONÍMIA
[Do gr. metonymía, pelo let. metonymia.]
S.f. 1. Tropo que consiste em designar um objeto por palavra designativa doutro objeto que tem com o primeiro uma relação de causa e efeito (trabalho, por obra), continente e conteúdo (copo, por bebida), lugar e produto (porto, por vinho do porto), matéria e objeto (bronze, por estatueta de bronze), abstrato e concreto (bandeira, por pátria), autor e obra (um Camões, por livro de Camões), a parte pelo todo (asa, por avião) etc.
- Que figura de linguagem é utilizada no título?
3. Como a autora do texto se posiciona diante da pergunta proposta no título?
4. Ao selecionar as palavras CHARUTOS e BOMBAS, a autora do texto já está fazendo uso de um recurso de convencimento, ou seja, ela está tentando persuadir o leitor para que este concorde com suas posições. Considerando o posicionamento da jornalista, justifique a escolha das palavras do título.
5. Aponte dois adjetivos cuja seleção denuncia o posicionamento da jornalista e se constituem em recursos persuasivos.
6. Releia o primeiro parágrafo e comente os vários recursos que a autora utiliza para realçar um contraste, uma oposição de idéias.
7. Considerando que o texto é argumentativo, explique qual o efeito do seguinte trecho:
“Claro! Provavelmente, foram só conversas de velhos amigos. Sobre beisebol, quem sabe”.
- Em seguida, selecione uma outra passagem em que se encontre o mesmo efeito.